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Área, Linhas e Projetos de Pesquisa

ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: PSICANÁLISE

Na Psicanálise, em função de princípios metodológicos específicos, introduzidos pela obra de Sigmund Freud e sustentados pelo ensino de Jacques Lacan, a clínica não se constitui como lugar de aplicação do saber teórico, mas como lugar de sua produção. Sendo a clínica o lugar, por excelência, de produção do saber psicanalítico, a dimensão da pesquisa articula-se a ela por uma determinação da própria metodologia da Psicanálise.

LINHA DE PESQUISA 1

PSICANÁLISE, POLÍTICA E CULTURA

Este projeto agrega estudos relativos a aspectos do sujeito na contemporaneidade, na medida em que o estudo e a prática da psicanálise se enlaçam com a política e a cultura. Considera em seu escopo estudos que lancem luzes sobre o sujeito, recolocando criticamente a aparente dicotomia entre o individual e o coletivo, sempre relançando a posição da psicanálise quanto à sua ética. Considera que o sujeito surge como efeito de tramas que tecem a subjetividade de sua época, na medida que as balizas culturais e políticas o mobilizam e o causam desde o inconsciente. Considerando que desde seu surgimento Freud começou a auscultar o sofrimento psíquico de pessoas a partir da função da fala no campo cultural da linguagem, a posição política da psicanálise foi a de sustentar uma escuta ética do sujeito, conceito distinto do que se convenciona chamar de indivíduo, tampouco reduzido ao plano do social. Dois aspectos relevantes da política se delineiam nesse processo: a leitura dos discursos que articulam o sujeito ao Outro da lei e da cultura e o manejo de seus efeitos no corpo pulsional na medida que o inconsciente é a política relativa à (in)satisfação e ao bem/mal-estar. Este projeto privilegia as referências da psicanálise freudiana e lacaniana, bem como a filosofia e a sociologia. Espera-se que os estudos desenvolvidos no escopo deste projeto tratem de questões que impactem as reflexões sobre os movimentos sociais na atualidade, como psicanálise e racismo, psicanálise e feminismo, questões de gênero, violência ao feminino, identificações e efeitos de massa, laço social e neoliberalismo, movimentos identitários.

Professores vinculados:
  • Heloísa Fernandes Caldas Ribeiro (Responsável)
  • Ana Maria Medeiros da Costa
  • Marcos Eichler de Almeida Silva
  • Marcos Vinicius Brunhari
  • Rita Maria Manso de Barros.

A psicanálise em extensão diferencia-se da psicanálise em intensão que corresponde à experiência que cada analisante atravessa em sua própria análise. Este projeto reúne trabalhos que investiguem a psicanálise em extensão no que diz respeito a questões relativas à transmissão da psicanálise e seus efeitos no mundo contemporâneo, a diferenciação do ato psicanalítico em relação ao ato médico e às psicoterapias, o fim de análise e o dispositivo do passe, o discurso psicanalítico e sua incidência nas instituições públicas e privadas e a relação entre psicanálise e universidade. Possibilita a realização de pesquisas que, partindo das abordagens de Freud e de Lacan, promovam articulações teórico clínicas que ultrapassem o campo da experiência estrita da análise, dialogando com aspectos estruturais e discursivos da política nacional e internacional, assim como a entrada da psicanálise em espaços públicos. Priorizamos as experiências da presença da psicanálise em diferentes contextos, no campo de sua manifestação – através das artes, literatura, música, cinema –,  além da articulação com campos do saber institucional  – espaços educativos, universidade, hospital, especialmente aqueles que integram o Sistema Único de Saúde –, bem como em articulação com o direito e áreas correlatas ao saber biomédico. Consideramos a clínica como lócus das pesquisas desenvolvidas nesse projeto, o que implica a articulação da psicanálise com o horizonte social, político e cultural de nossa época, considerando em Freud a indissociabilidade entre psicologia individual e psicologia social; e em Lacan a psicanálise em extensão como ponto de fuga da psicanálise em intensão. Assim, buscamos trazer contribuições da pesquisa em psicanálise para o debate político, para as artes, para as questões de sociedade e para o desenvolvimento de dispositivos inovadores na área da saúde e da educação, incluída a prática em contexto multiprofissional.

Professores vinculados:
  • Vinicius Anciães Darriba (Responsável)
  • Cristiane Marques Seixas
  • Felipe de Oliveira Castelo Branco
  • Rita Maria Manso de Barros
  • Vivian Martins Ligeiro.

Este projeto abarca estudos relacionados à ciência e à relação entre saber e verdade, assim como o impacto dos avanços tecnológicos sobre o sujeito da psicanálise no que tange tanto os dispositivos psicanalíticos quanto à sua articulação nas redes sociais digitais. Priorizamos aspectos relacionados aos efeitos de massa decorrentes do discurso do capitalista e do neoliberalismo sobre a saúde mental, analisando fenômenos como a produção de fake News, pós-verdade e negacionismo, questões de gênero e corpo, movimentos sociais, além do uso de tecnologias digitais nos dispositivos psicanalíticos e de transmissão da psicanálise. Prioriza-se a teoria dos discursos em referência às contribuições de Lacan, articulada à psicologia das massas conforme desenvolvida por Freud em 1921, além da interconexão entre Filosofia e Sociologia, Artes e Literatura, que proponham investigações de revisão de literatura, pesquisa em psicanálise e estudos de casos. Prioriza-se como fontes de dados a prática da clínica psicanalítica, clínica em instituições públicas e a inserção da psicanálise em diferentes espaços midiáticos, como redes sociais, cinema, literatura e arte, além de fontes bibliográficas e jornalísticas. Com isso, almejamos avançar na forma de pensar a articulação da psicanálise com outros campos de modo a sustentar a psicanálise como campo científico e suas especificidades. Espera-se que os estudos possibilitem uma melhor abordagem de aspectos contemporâneos da clínica psicanalítica e produzam impactos às reflexões sobre os movimentos sociais na atualidade, promovendo novas reflexões dentro do campo psicanalítico.

Professores vinculados:
  • Cristiane Marques Seixas (Responsável)
  • Heloísa Fernandes Caldas Ribeiro
  • Marcos Eichler de Almeida Silva
  • Vinicius Anciães Darriba
  • Marcos Vinicius Brunhari
  • Vivian Martins Ligeiro

LINHA DE PESQUISA 2

PSICANÁLISE: TEORIA E CLÍNICA

A psicanálise vem se fazendo cada vez mais presente no debate provocado pela teorização lacaniana do laço social em sua relação com a clínica do um a um, ou seja, das singularidades de cada sujeito. O Programa de Pós-graduação em Psicanálise, que desenvolve pesquisas que tangenciam essa teorização desde o momento em que foi criado, contempla com esse projeto estudos que visam aprofundar suas articulações com temas como: 1. o discurso do capitalista, neoliberalismo e objetificação do sujeito; 2. segregação, aporofobia e racismo; 3. transexualidade, transgeneridade e transfobia; 4. feminino e violência e 5. as paixões do ser: amor, ódio e ignorância. Essas questões, que cada vez mais se impõem na clínica hodierna, exigem análises que levem em conta o ato terapêutico mediante a adoção de abordagem psicanalítica contextualizada naquilo que o próprio Lacan, como teórico que desenvolveu essa temática, observou quando disse que o psicanalista precisa estar à altura de responder às exigências de seu tempo. Ou seja, contextualizá-lo na articulação com outros saberes e práticas, mas sempre, devido à especificidade da área em que o projeto se desenvolve, a partir dos conceitos fundamentais da psicanálise, tais como: inconsciente, pulsão, repetição, transferência, desejo, gozo, sujeito. Prioriza-se como fontes de dados estudos relacionados à clínica psicanalítica com cada sujeito – psicanálise em intensão – e à presença da psicanálise no mundo – psicanálise em extensão –, utilizando como ferramentas a escuta psicanalítica a partir da transferência. Pretende-se com isso problematizar a inserção do sujeito no laço social para responder ao principal objetivo desse projeto: contribuir com o aggiornamento do atendimento à população, de modo que as diferenças em suas expressões possam não apenas ser acolhidas no cotidiano da clínica, mas transformadas inclusive em contribuições para repensarmos, teoricamente, a própria clínica psicanalítica.

Professores vinculados:
  • Dóris Luz Rinaldi (Responsável)
  • Luciana Ribeiro Marques
  • Marco Antonio Coutinho Jorge
  • Mario Eduardo Costa Pereira
  • Sonia Alberti.

Em sua vertente hegemônica contemporânea, a psicopatologia é habitualmente definida como o estudo das doenças mentais em sua apresentação clínica e nos mecanismos de sua produção e desenvolvimento, a partir dos aspectos fenomenológicos. As pesquisas nesse eixo visam colocá-la sob exame crítico, partindo da orientação clínica conceituada por Freud e Lacan, que tem por base a transferência. Dessa forma, as investigações realizadas nesse eixo têm uma tripla perspectiva: 1. o estudo e o aprofundamento de uma psicopatologia especificamente psicanalítica; 2. pesquisas de interlocução com outros campos de pesquisa no campo da psicopatologia, visando situar sua incidência específica sobre o sujeito e 3. que relações entre a psicopatologia – quando concebida a partir da concepção psicanalítica do sujeito – e as diferentes formas de tratamento, em termos de sua ética, política e estratégias clínicas. Além desse objetivo principal, as pesquisas desse eixo também visam permitir a constante atualização da teoria da clínica diante dos novos sintomas, sejam estes entendidos como manifestações do pathos de cada sujeito, sejam eles entendidos como manifestações do que se apresenta no campo social.

Professores vinculados:
  • Mario Eduardo Costa Pereira (Responsável)
  • Luciana Ribeiro Marques
  • Marco Antonio Coutinho Jorge
  • Ademir Pacelli Ferreira

Com a prática clínica em instituições, surgem inúmeras questões para os psicanalistas. A partir do trabalho que se realiza na interlocução da psicanálise com a medicina, o hospital, os ambulatórios, os CAPS e outros dispositivos clínicos, além do consultório, da escola e do direito, de que modo se dá essa inserção interdisciplinar? Levando em conta a especificidade da ética da psicanálise, buscamos responder às seguintes questões: como pode a psicanálise contribuir com os diferentes trabalhos que se realizam nas instituições, e o que a psicanálise pode auferir da inserção de sua prática nelas? Que metodologia ela desenvolve, como se situa discursivamente, que vínculos com os saberes que encontramos nas instituições e como se posiciona epistemologicamente nisso? De que modo essa prática se articula com a teoria? Como primaziar a clínica do caso a caso diante dos eventuais obstáculos encontrados? E que obstáculos são estes? Qual é a pluralidade clínica que encontramos nas instituições? As investigações no âmbito desse projeto se sustentam na abordagem teórico-metodológica da psicanálise, especificamente onde esta se articula com o campo conhecido como os da psicanálise aplicada e o das conexões da psicanálise e que foi definido por Jacques Lacan como integrando duas das três sessões de sua Escola, aqui definida como orientação teórica, clínica e ética. Os dados advêm da prática de pesquisa no contexto das instituições: ambulatórios, CAPS, hospitais, residências terapêuticas, escolas e outras instituições de ensino, tribunais e fóruns da Justiça, ou seja, nas instituições de uma forma geral, nas quais se constituem dispositivos clínicos de saúde mental. Cabe destacar que essa proposta de pesquisa retoma uma das orientações construídas ao longo dos anos de trabalhos no Programa, cujos frutos se contam tanto nas dissertações e teses nele defendidas, quanto nos produtos publicados e apresentações de trabalho realizadas, além das inserções de membros do corpo docente e discente em diferentes dispositivos clínicos atuantes nas instituições. Com a experiência adquirida, aprofunda-se agora nas articulações entre clínica, teoria e pesquisa, a partir do trabalho que se realiza na interlocução da psicanálise com as instituições acima identificadas. Priorizamos, assim, análises em instituições públicas integrantes do SUS, do ensino público, e também nos tribunais e dispositivos de justiça. Por consequência, todo o impacto no âmbito desse Projeto incide diretamente no contexto social, nas políticas de saúde e educação, visando contribuir com a psicanálise para a melhoria do atendimento à população em geral e tomando em conta sua rica diversidade.

Professores vinculados:
  • Sonia Alberti (Responsável)
  • Ademir Pacelli Ferreira
  • Ana Cristina Costa de Figueiredo
  • Doris Luz Rinaldi